O Hilemorfismo Aristotélico

O hilemorfismo é a doutrina que Aristóteles concebeu para opor-se, simultaneamente, ao idealismo platônico (notadamente em sua doutrina das Ideias) e ao materialismo adotado por filósofos pré-socráticos (entre os quais figuram de modo proeminente Demócrito e Leucipo, fundadores do Atomismo, Empédocles eAnaxágoras – este último, a despeito de ter introduzido a noção de intelecto, fornece explicações segundo uma causalidade meramente material, de acordo com a leitura que dele faz Aristóteles). Na perspectiva hilemorfista, a forma (termo técnico em Aristóteles: εἶδος) é um dos constituintes metafísicos primários de toda substância individual (ou composto de matéria e forma: τὸ σύνολον ou τὸ ἐξ ἀμφοῖν), que governa e determina o outro constituinte metafísico básico, a matéria (em grego: ὕλη). Por um lado, é pela forma que se compreende a natureza de cada coisa; esta forma, por sua vez, é, no tocante às substâncias sensíveis, sempre imanente às coisas, não existindo à parte delas. Deste modo, Aristóteles se distingue do platonismo, que postulava, ao contrário, a existência separada das Ideias relativamente aos objetos sensíveis que delas participam.

Por outro, a forma aristotélica, cujo enunciado corresponde à definição do objeto em questão, tem uma função de determinação e de controle dos elementos materiais que constituem o objeto em pauta: é porque tal objeto tem tal forma ou essência (termo técnico em Aristóteles: τὸ τί ἦν εἶναι) que ele está constituído por tais e tais elementos materiais dispostos em um determinado modo. Por esta via, o hilemorfismo aristotélico se demarca de todas as tentativas de explicação puramente material dos objetos que nos circundam.