Programação
Durante décadas, a teoria crítica tem sido criticada, de forma mais ou menos velada, por ter entrado em um processo de institucionalização, de domesticação ou de exegese que não parece mais estar à altura das potencialidades de seu passado. Cada vez mais, cresce o ceticismo a respeito da teoria crítica contemporânea ser capaz de realmente encarnar um projeto interdisciplinar animado pela crítica implacável aos sistemas de integração socioeconômica, psíquica e política às sociedades capitalistas e seus horizontes normativos.
A insensibilidade a permanência do problema colonial e suas formas de violência no cenário contemporâneo; o silêncio em relação a massacres; a escolha em compreender as dinâmicas sociais preferencialmente a partir da sociologia dos conflitos e, não mais das lutas de classe; a redução da possibilidade revolucionária da luta operária a um “dogma histórico”; a recusa em compreender como tarefa da crítica a decomposição da personalidade psíquica e seus processos naturalmente segregadores e violentos; a ilusão de um potencialmente comunicacional presente como potencialidade da história de nossas instituições: esses são alguns dos tópicos que podem nos levar a perguntar quão efetivamente crítica é a teoria crítica atualmente.
Em um momento histórico de ascensão global do fascismo, mesmo que vários acadêmicos prefiram não dizer seu nome na esperança de que, assim, ele não apareça, espera-se da teoria crítica uma reconexão com seus impulsos originais mais profundos e o esclarecimento das relações orgânicas entre tais “regressões” e o funcionamento normal das democracias liberais. Em um momento de colapso ecológico, espera-se da teoria crítica um aprofundamento da dialética do esclarecimento e sua denúncia entre dinâmicas de racionalização social e catástrofes de dominação, entre progresso e violência. Em um momento de transformação da crise em modo geral de governo, espera-se da teoria crítica uma capacidade de se “desprovincianizar”, de articular-se ao sistema global de lutas, esteja ele na América Latina, na Ásia ou na África, tendo em vista a transformação radical do existente e de suas condições de produção.
Nesse colóquio, trata-se de permitir o desenvolvimento de tal debate, dando-lhe visibilidade e permitindo a quem se vê ainda vinculado à tradição da teoria crítica que possa fazer dela uma arma mais aguda contra o presente.
Coordenação: Vladimir Safatle (USP) e Luiz Philipe de Caux (UFRRJ)
Organização: Bruno Belém, Bruno Carvalho, Carine Laser, Frederico Lyra, Giovanni Zanotti, Henrique Valle, Jean-Pierre Caron, Julia Pedigone, Marcus Vinicius Felizardo, Maria Eugênya Pacioni Gomes, Natalia Acurcio, Rodrigo Gonsalves, Vítor Beghini.
Apoio: Revista CULT
Design: Sanannda Acácia
PROGRAMAÇÃO
11 de novembro (Segunda-feira)
Mesa 1.1
13h00: A teoria crítica diante das crises do presente (Auditório 14 – Prédio de Filosofia e Ciências Sociais)
Jordi Maiso (Universidad Complutense de Madrid): Cultural Industry and authoritarianism today
Marcus Vinicius Felizardo (USP/ENS Paris): Imaginação e crise perene
Natália Acurcio (USP): O intenso agora – a dívida e o dever da filosofia diante do colonialismo e do genocídio na Palestina
Vladimir Safatle (USP): Crises finitas, guerras infinitas: a perda de objeto da teoria crítica diante da aceleração da decomposição social
Mesa 1.2
16h00: Retomar a primeira geração da Escola de Frankfurt? (Auditório 14 – Prédio de Filosofia e Ciências Sociais)
Bruno Carvalho (USP): Adorno, a crítica da atualidade e atualidade da crítica
Eduardo Neves Silva (UFMG): O lugar do sofrimento em Adorno
Fabian Freyenhagen (Essex): Normalidades doentias: em direção a uma teoria crítica da saúde mental
Felipe Catalani (UFF/UNICAMP): A normalidade de uma república berlinense – filosofia e paz social
Mesa 1.3
19h00: Teoria crítica, feminismo, psicanálise (Auditório 8 – Prédio de Filosofia e Ciências Sociais)
Carine Laser (USP): O retorno ao recalcado: sobre o recurso à psicanálise para uma teoria crítica
Juliana da Silva Henrique (USP): Repúdio ao feminino – considerações sobre o recalcamento da crise no sujeito e o sujeito na crise
Olgária Matos (USP/UNIFESP): O feminino e o mundo da total administração: a teoria crítica e os invencidos da história
Virginia Costa (USP): Primado do objeto – ou uma teoria crítica à brasileira
12 de novembro (terça-feira)
Mesa 2.1 (Sala 111 – Prédio de Filosofia e Ciências Sociais)
13h00: O déficit estético (Sala 111 – Prédio de Filosofia e Ciências Sociais)
Fábio Durão (UNICAMP) – Sobre o desgaste da teoria crítica – caracterização e manifestações nos estudos literários
Julia Pedigone (USP): Liberar-se do sonho sem traí-lo – a possibilidade do impossível no pensamento adorniano
María Verónica Galfione (Universidad Nacional de Cordoba): Por que a estética hoje ?
Vítor Beghini (USP): Teoria crítica, teoria estética – sobre o “envelhecimento” do pensamento estético adorniano
Mesa 2.2 – (Sala 111 – Prédio de Filosofia e Ciências Sociais)
16h00: Revisar os operadores da práxis
Felipe Taufer (UCS): O ocaso ideológico da contradição
Paulo Sampaio (USP): Por uma crítica impertinente: sobre o Nicht mitmachen adorniano
Ricardo Musse (USP): Teoria crítica e neoliberalismo
Mesa 3.2 – (Auditório 24 – Prédio de Filosofia e Ciências Sociais)
19h30: Depois de Habermas, le déluge ?
Giovanni Zanotti (CEIS20 - Universidade de Coimbra): O Bad Godesberg filosófico de Jürgen Habermas
Frederico Lyra (USP/CRAE/ALAMEDA): A improvisação na Teoria Estética de Adorno
Luiz Philipe de Caux (UFRRJ): A segunda geração
13 de novembro (quarta-feira)
Mesa 3.1 (Sala 107 – Prédio da Letras)
14h00 : Redimensionar a estrutura da crítica
Bruno Belém (USP): Gestão da crítica e o ponto de vista do capital
Daniel Pucciarelli (UEMG) : Teoria crítica, materialismo, especulação
J. -P. Caron (UFRJ) : Crítica e construção
Ray Brassier (America University of Beirut): The limits of critical pessimism
Mesa 3.2 – (Sala 107 – Prédio da Letras)
16h00: Destinos do marxismo na teoria crítica
Bruno Klein Serrano (UFLA): Adorno e a nova leitura de Marx
Gabriel Teles (USP): Karl Korsch e os primórdios da teoria crítica: pela reabilitação do marxismo crítico-revolucionário
Henrique Valle (USP): A renovação como retrocesso – sobre as contradições da ideia honnethiana de socialismo
Mesa 3.3 – (Auditório 24 – Prédio de Filosofia e Ciências Sociais)
19h30: Utopia e catástrofe
Silvio Carneiro (UFABC): Esgotamento das energias utópicas? A tarefa da teoria crítica para um horizonte de emancipação
Wanda Marques (USP): Capitalismo tardio – a ideologia pós-industrial e a ascensão do fascismo no século XXI
Wolfgang Leo Maar (UFSCAR): A reprodução ampliada da sociedade capitalista – dialética e negação
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