Programação
"O pensamento crítico da formação percebe como a formação nacional não se dará. O pensamento da formação aparece para nos lembrar que não haverá formação alguma. Em seus melhores momentos, ele fará dessa impossibilidade uma análise global, insistindo que os bloqueios da periferia do capitalismo indicam a tendência geral do horizonte do sistema geral, como se as contradições que a periferia do capitalismo revela lançassem luz sobre as tensões globais. A tendência não é que o centro defina as dinâmicas de desenvolvimento da periferia, mas o contrário, que a periferia explicite as tendências de transformação do centro. De certa forma, os países “atrasados” são os mais avançados, em um momento onde a desintegração do capitalismo é impulsionada pelas suas crises, pela articulação entre baixo crescimento, endividamento crônico e aumento exponencial da desigualdade. Ou seja, a impossibilidade não dizia respeito a alguma forma de limitação da realidade nacional, mas era a explicitação das insuficiências do próprio horizonte normativo dos processos globais de modernização social. As dinâmicas de desenvolvimento desigual e combinado impediam tal formação, mas também era necessário lembrar que as formações nacionais iriam rapidamente entrar em colapso, como se estivéssemos a ver uma brasilianização do mundo devido ao aprofundamento das dinâmicas de acumulação primitiva.
No entanto, tal pensamento da formação herda os interditos do primeiro modernismo brasileiro, o que terá consequências importantes na maneira com que o processo de lutas sociais não será integrado ao quadro de reflexão crítica, ou integrado apenas de forma muito peculiar. Assim como o primeiro modernismo não sabe como apoiar-se no que vem antes do gesto de construção estética do povo, nem como integrar bem as formas de resistência que se desdobram em uma temporalidade alargada, em um passado extenso."