BRUNO GONÇALVES MOREIRA

Ao longo de sua obra, Descartes faz uma divisão entre, de um lado, ideia enquanto um modo de pensamento e, de outro, ideia dotada de realidade objetiva. Essa divisão aparece por mais de uma vez, porém, a mais explícita delas, do Prefácio ao leitor das Meditações sobre a filosofia primeira, é feita com a intenção de resolver um problema: como o sujeito limitado tem em si a ideia de um ser sumamente perfeito e infinito (Deus)? A partir dessa questão, o objetivo desta dissertação é analisar se, para Descartes, em toda sua obra, há somente uma maneira de entender a ideia, a saber, como um modo do pensamento que é dotado de realidade objetiva, ou, por outro lado, se há mais de um conceito de ideia, dos quais, um diz respeito ao modo do pensamento e o outro, completamente distinto do primeiro, diz respeito ao objeto inserido no intelecto. Para isso, sempre partindo da Meditação III, a análise estende-se em quatro pontos: primeiro, a análise da ideia como gênero, pois a ideia é um modo e/ou uma ação do pensamento; segundo, análise da realidade da ideia como modo do pensamento, isto é, da realidade formal da ideia; terceiro, análise da realidade objetiva da ideia e da possível independência entre a ideia dotada de realidade objetiva e ideia dotada de realidade formal; e, enfim, a análise da natureza da ideia, isto é, da função mais elementar e geral da ideia, que defendemos ser a função de percepção.