O conflito é um conceito central na filosofia de Maquiavel, pois em diversos de seus escritos o florentino afirma que todo corpo social é cindido por dois humores em desunião: o do povo, de não ser dominado, e o dos grandes, de dominar. Esse conflito, entretanto, não sinaliza a impossibilidade da vida social, mas é o que a estrutura, porque cada cidade institui leis e ordenações para si segundo essa dinâmica entre esses agentes políticos, de modo que a ordenação não é simplesmente um arranjo institucional que elimina os humores, mas uma estrutura que permite o desafogo dos humores e, assim, os movimentos do corpo social e a ação dos agentes. Essa operação dos dois desejos, no entanto, não é simétrica, visto que o povo deseja apenas não ser dominado, ao passo que os grandes querem dominar, oprimir, o que origina efeitos diversos, pois, se estes se sobrepuserem aos populares, eles submetem o corpo social com o objetivo de se apropriarem dele apenas pelo seu interesse próprio e lançam a servidão sobre ele. Desse modo, apenas quando o povo expressa seu desejo, quando ele age e se opõe aos grandes e possui autoridade na república a liberdade pode se efetivar, pois ele recusa a dominação dos grandes e alarga o espaço público para além dos interesses pessoais destes. Este trabalho, portanto, tem por objetivo investigar a ação do povo e em que medida ela promove a liberdade. Defendemos que a operação desse agente político não se restringe a modos ordinários, pois apenas mediante a ação extraordinária, quando o povo demanda a reordenação do corpo social e impõe um limite a ação dos grandes, a verdadeira liberdade pode se efetivar.
Ricardo Polidoro Mendes
Curso
Mestrado
Título de la investigación
O desejo de não ser dominado: a república democrática-popular em Maquiavel
Resumo da pesquisa
Orientador
Silvana de Souza Ramos
Fomento
CNPq
Data da defesa
24/01/2022