JÚLIA RODRIGUES MOLINARI

Esta pesquisa tem como objeto de análise a Opus Nonaginta Dierum de Guilherme de Ockham, seu primeiro escrito político que marcou uma mudança temática em sua obra – a partir de então, o autor passou a se dedicar exclusivamente a sua obra política. A divisão cronológica entre seus escritos “filosóficos e teológicos” e “políticos” impõe uma questão metodológica acerca de como tratar desses diferentes períodos, assim como a possibilidade de aproximar ou não suas teses. Tomamos como hipótese inicial que a acepção ockhamiana de teologia poderia ser remetida, dentro dos escritos políticos, a seu posicionamento acerca de uma função mediadora do teólogo em disputas políticas – em certo sentido, como um precursor do que posteriormente será chamado de “conciliarismo”. A partir disso, selecionamos analisar a Opus por dois motivos: (1) por ser o texto de “transição” entre as duas fases da vida de Ockham; (2) porque, por se tratar de seu posicionamento diante da disputa entre os franciscanos e o papa João XXII, Ockham precisa fazer uso de sua proficiência em temas como a interpretação das escrituras e do direito canônico para justificar suas críticas ao papa.