Este trabalho investiga com base na obra de Walter Benjamin a concepção de espaço que se constitui no surgimento da metrópole burguesa do século XIX valendo-se de um olhar estético que, se beneficiando do pensar material da arquitetura – assim como da arte em geral – toma o conceito de espaço em três de suas configurações: interior, exterior e limiar. A hegemonia dos valores burgueses que influenciará a constituição da ideia moderna de espaço urbano marca tanto a arquitetura e decoração do interior residencial quanto a concepção urbanística para a metrópole ocidental: a casa se torna um ambiente cada vez mais isolado e privativo ao mesmo tempo em que a rua enfraquece sua significação como lugar de partilha do coletivo. Essa transformação se torna nítida nos espaços de limiar onde passado e presente se interpenetram e convivem, ambientes que entrecruzando o antigo e o novo modo de vida possibilitam ao historiador materialista benjaminiano o reconhecimento do que estava oculto na história e o questionamento da historiografia tradicional de matriz historicista. Ademais, o século XIX consolida uma concepção espacial que fortalece a constituição de limites que dividem de maneira rígida o interior — o espaço interno privado, isolado e exclusivo — e o exterior, o espaço externo público enfraquecido politicamente e reduzido à sua função de passagem. Nesse contexto, o espaço físico do interior torna-se expressão da interioridade ao mesmo tempo em que exige compensações pela perda do significado coletivo do espaço exterior na medida em que a experiência do comum se debilita. As novas regras de interação social entre indivíduos anônimos típicas da grande cidade normalizam a desconexão social e afetiva da comunidade. Objeto de observação privilegiado para compreender a transformação da experiência política com o advento da modernidade, a Paris do século XIX apresenta não somente um modelo de metrópole, mas o instantâneo da transição, do momento significativo em que convivem outrora e agora, um lugar-instante de limiar entre distintas percepções de vida e experiência. Manifestando a incerteza e a instabilidade que subjaz à modernidade e seu caráter de constante transição, o limiar revela-se como objeto, mas também como método que evidencia contrastes e afinidades sem as limitações de uma racionalidade sintética que abandona as divergências, mantendo vivas e visíveis as contradições e acolhendo e aprendendo com as diferenças.
MATEUS GONÇALVES DE MEDEIROS
Curso
Doutorado
Título de la investigación
Walter Benjamin e o espaço urbano moderno - uma estética do limiar
Resumo da pesquisa
Orientador
Olgária Chain Feres Matos
Data da defesa
14/10/2024