SEMINÁRIO DE TEORIA CRÍTICA 2025 | Realismo e emancipação na Estética de Lukács

Carolina Peters (USP)
14.AGO.2025, 19H
 - SALA 10

Fredric Jameson certa vez sugeriu que “aquilo que no mais das vezes nos soa antiquado na teorização de Lukács talvez diga menos respeito ao seu gosto clássico firmemente arraigado do que à sua insistência na especificidade da vivência estética, contra a tendência histórica moderna e pós-moderna no sentido de uma dissolução dessa categoria e de uma diluição da arte e da cultura por todo o mundo anteriormente [compreendido como] ‘exterior’” às obras — sobretudo no que diz respeito ao assunto abordado pelo crítico estadunidense no referido artigo: as intrincadas relações entre arte e política. De fato, enquanto parcela significativa da arte contemporânea e seus teóricos parece decidida a afirmar certo caráter militante dessas produções, no anseio por intervenção prática na esfera pública, que seja justo um marxista “ortodoxo” a reivindicar tão taxativamente a autonomia da arte desperta alguma desconfiança. Convém todavia apontar que, se já a ensaística das décadas de 1930 e 1940 (quando Lukács formula pela primeira vez o intuito de sistematizar uma filosofia da arte a partir do pensamento de Marx) representa uma posição alternativa tanto às injunções propagandístico-partidárias do Realismo Socialista quanto ao l’art pour l’art burguês; na grande Estética de 1963 a conquista (tardia) de uma legalidade própria das configurações estéticas é analisada sempre em vista de sua gênese na cotidianidade e função social — a saber, a “missão desfetichizadora” que historicamente se destina a cumprir —, inexistindo autonomia da arte sem instâncias de transição entre diferentes âmbitos do ser social, da nossa prática portanto. Assim, a reconstituição do itinerário do filósofo húngaro até a publicação de A peculiaridade do estético, além de um exame mais atento da obra — que apenas recentemente começou a ser traduzida para o português —, permitem que o debate ganhe maiores nuances. Nesse sentido, interessa particularmente como a questão do realismo comparece em novos termos, vinculando a dimensão mimética à forma peculiar que assumem as objetividades estéticas: em larga medida indeterminadas, cujo efeito evocador, longe de afigurar um mandamento unívoco, resguarda um espaço de jogo livre à imaginação e reivindica um sujeito que as interpele. No trânsito entre Lênin e Lessing, realismo artístico, imaginação política e emancipação humana formam no pensamento estético de György Lukács uma constelação ainda pouco explorada, capaz de iluminar dilemas atuais no campo da crítica. Ao menos é nisso que aposto.

Cartaz e Programação do evento
Organização
André Sznajder, Marcus Vinicius Felizardo, Paulo Fernando Amaral (Doutorandos DF/FFLCH-USP)
Coordenação
Profs. Luiz Sérgio Repa e Vladimir Safatle (DF/FFLCH-USP)
Apoio
PPG-Fil/FFLCH-USP, CAPES-PROEX
Local
SALA 10
Endereço
Av. Prof. Luciano Gualberto, 315. FFLCH/USP. Cidade Universitária, São Paulo-SP