SEMINÁRIO DE TEORIA CRÍTICA 2025 | Qual é o objeto de O capital? Lógica e história na crítica da economia política de Marx

Lutti Mira (USP)
26.AGO.2025, 19H
 - SALA 10

Na sua contribuição em Ler O capital (1965), Louis Althusser chamou atenção para a necessidade de responder com precisão a seguinte questão: qual exatamente é o objeto de Marx em O capital? Para Althusser, tratava-se tanto de rejeitar as leituras dos economistas, que não distinguiam entre o objeto da crítica da economia política e o objeto da própria economia política, transformando Marx num economista político como Smith ou Ricardo, quanto de recusar as leituras historicistas que reduziam O capital a uma obra cujo objeto seria o capitalismo do século XIX. Em sua redefinição do objeto investigado por Marx, Althusser propôs uma separação radical entre objeto real e objeto de pensamento, restringindo o âmbito da investigação marxiana ao objeto de pensamento. Em que pese o acerto no realce da dimensão lógica – ou “científica”, nos termos de Althusser – dos escritos marxianos do período de maturidade, sabe-se que a recepção uspiana a respeito desse conjunto de teses foi bastante crítica: de um lado, Ruy Fausto mostrou que o anti-historicismo althusseriano padecia dos mesmos problemas que o historicismo que ele pretendia combater. De outro, Giannotti enfatizou a centralidade dos processos reflexionantes que basearam a investigação de Marx, de modo que objeto real e objeto de pensamento ligam-se numa dobradiça que contradiz a separação proposta por Althusser.

Assumindo esse debate como ponto de partida, gostaria, em minha apresentação, de retomar a questão referente ao objeto de O capital tendo como fio condutor a concepção de crítica que Marx desenvolveu em sua obra de maturidade a partir de 1857. Trata-se, num primeiro momento, de fazer ver que Marx, ao retomar a ideia hegeliana de exposição (Darstellung), elaborou uma crítica expositiva das doutrinas da economia política que era, ao mesmo tempo, uma crítica do objeto real de sua investigação: na medida em que as categorias da economia política cristalizavam as relações reais do capital, elas se tornaram o próprio objeto da investigação marxiana. Ao assumir tais categorias como fio condutor de sua exposição, Marx comprometeu-se com a primazia lógica das categorias capitalistas, de modo que, num primeiro momento, seu objetivo é mostrar como o capital capacita-se como sujeito capaz de pôr seus próprios pressupostos e reproduzir-se a partir deles. Essa primazia lógica, contudo, será limitada por Marx através de uma inserção metódica de elementos históricos: a acumulação primitiva torna claro que o capital pressupôs processos que não foram postos por ele, o que significa que o capital nem sempre comandou o processo histórico, fato que aponta para o passado pré-capitalista. Se o capital nem sempre existiu, Marx consegue, através dessa limitação histórica da lógica do capital, desfazer a ilusão econômico-política de que esse modo de produção possuiria categorias de natureza a-histórica. Dessa forma, pretendo evidenciar que o objeto da investigação marxiana deve ser concebido a partir do balanço entre o momento lógico da exposição e sua necessária limitação através da inserção do elemento histórico.

Cartaz e Programação do evento
Organização
André Sznajder, Marcus Vinicius Felizardo, Paulo Fernando Amaral (Doutorandos DF/FFLCH-USP)
Coordenação
Profs. Luiz Sérgio Repa e Vladimir Safatle (DF/FFLCH-USP)
Apoio
PPG-Fil/FFLCH-USP, CAPES-PROEX
Local
SALA 10
Endereço
Av. Prof. Luciano Gualberto, 315. FFLCH/USP. Cidade Universitária, São Paulo-SP