"Cada um de nós sente hoje que é preciso ultrapassar a oposição entre “natureza” e “cultura”, e que esta é uma urgência não somente teórica, mas prática, instalada no coração do presente. Qual é a lição de Bergson? A primeira tese deste livro já é bastante potente – natureza e cultura se enraízam na vida, ela própria fundada sobre a duração criadora, conduzindo à técnica e à história humanas. Apenas por isso este livro já seria essencial. Mas eis que surge uma outra lição, ainda mais importante: é que a oposição entre natureza e cultura não é substituída por uma filosofia unitária da duração e da vida. Ela é atravessada por uma oposição que cruza de ponta a ponta a cultura e mesmo a natureza e a vida! Não oponhamos mais natureza e cultura. Mas não as “ultrapassemos” tampouco de maneira vaga e pueril. É preciso opor, na natureza, na cultura e na própria vida, o que tende a se fechar e a nos destruir ao que, ao contrário, resiste, cria, abre e reabre sempre a nossa história. Tal é a lição de Bergson. Tal é a lição renovada por Bruno Rates neste livro."
Frédéric Worms - École Normale Supérieure (Paris, França)
“Bruno Rates propõe, com seu livro As Expressões da Vida: Natureza e Cultura na Filosofia de Bergson, uma reinterpretação completa da filosofia de Bergson, apoiada sobre um conhecimento notavelmente exaustivo dos textos em que ela se exprime; e isso seguindo o único percurso verdadeiramente adequado a essa filosofia do tempo, ou seja, um percurso cronológico. Mas, na cronologia da obra bergsoniana, Rates está particularmente atento às rupturas introduzidas pelos eventos de natureza histórica e política (principalmente pela Primeira Guerra Mundial), donde emerge o segundo grande êxito deste livro: o autor evidencia os pontos em que a filosofia de Bergson tem algo a nos dizer sobre o tempo presente.
Concentrando-se, com efeito, sobre um problema relativamente discreto na obra de Bergson, acerca das relações entre a natureza e a cultura, e recolocando-o em seu verdadeiro eixo – a saber, a teoria da vida –, Rates fórmula não somente uma questão bastante inédita nos estudos bergsonianos brasileiros e mesmo mundiais, empregando-a de maneira notável. Sobretudo, ele mostra como Bergson é um interlocutor incontornável, ao menos para três debates próprios à nossa época: a relação entre filosofia e antropologia, a natureza exata da evolução das espécies e, notadamente, o lugar do ser humano na natureza.
Esta última questão, que o próprio Bergson fórmula explicitamente e que será com frequência retomada depois dele, encontra-se atualmente no centro de um dos problemas mais urgentes de nosso tempo, o problema da ecologia e do impacto da técnica sobre a preservação de um mundo habitável.”
Arnaud François - Universidade de Poitiers (França)
Sobre autor: Bruno Rates é pesquisador de pós-doutorado no Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo (fflch-usp)/Fapesp, com passagens como pesquisador visitante na École Normale Supérieure (ens-Paris)/Centre National de la Recherche Scientifique (cnrs) e no Max-Planck- Institut für Wissenschaftsgeschichte (mpiwg-Berlim). É autor de trabalhos publicados no Brasil e no exterior sobre o pensamento de Bergson. Atualmente, desenvolve pesquisa sobre os impactos filosóficos das teorias da vida e do evolucionismo.
