Luiz Fernando Batista Franklin de Matos (1950-2024)

Na tarde deste domingo, 7 de julho, faleceu Luiz Fernando Franklin de Matos, professor ti-tular aposentado do Departamento de Filosofia. Ainda na graduação, Fanto (que também era cari-nhosamente conhecido como Sócrates) tem contato com Gilda de Mello e Souza, que o convida a publicar dois textos seus nos números iniciais da revista Discurso, que ela acabara de fundar. Também com Dona Gilda inicia seu mestrado sobre Dom Quixote, o qual se transformaria em tese de doutorado, defendido em 1979, sob orientação de Otília Beatriz Fiori Arantes. 
Em 1974, recém-formado, torna-se professor de estética do Departamento de Filosofia. Em 1981 publica Matei minha mulher – O caso Althusser, em parceria com o amigo Michel Lahud.  Por volta do início dos anos 1980 se volta ao estudo da filosofia e literatura do século XVIII, em particular, da estética teatral de Denis Diderot, de quem traduz o Discurso sobre a poesia dramática. Pouco depois começa a elaborar aquela que é uma de suas contribuições mais originais, ao perceber a correlação da figura do filósofo com a do comediante no pensamento diderotiano. Ao longo dos anos publica trabalhos sobre a estética e literatura do Iluminismo, reunidos por ele no livro O filósofo e o comediante – Ensaios sobre filosofia e literatura da Ilustração (2001). O mesmo ensaísmo refinado, que na prosa filosófica brasileira ombreia com os escritos de Bento Prado Jr. e Rubens Rodrigues Torres Filho, se faz presente no livro seguinte, A cadeia secreta (2003), dedicado ao experimentalismo e realismo na obra romanesca de Diderot. De 1997 em di-ante, foi editor do Jornal de Resenhas, ao lado de Milton Meira do Nascimento, Victor Knoll, Sérgio Miceli, Augusto Massi e tantos outros, experiência intelectual marcante, que lhe permite apurar ainda mais a escrita “límpida, concisa e precisa”, conforme escreveu Marilena Chauí.
Pelo seu ensino, conferências e publicações, Franklin de Matos teve papel decisivo não apenas na consolidação dos estudos de estética no Brasil, mas também ajudou a fortalecer a reflexão sobre a filosofia da Ilustração entre nós. A articulação entre filosofia e literatura que soube construir em seus escritos é seu legado inequívoco. Na memória dos que o conheceram permanecerá vivo também pela civilidade, pelas inúmeras histórias e anedotas que sabia contar, pela perspicácia do observador, pelo apreço à adequação e decoro. Ele não verá, infelizmente, o lume de seu livro A invenção do leitor (sobre o Dom Quixote de Cervantes), a ser lançado em breve pela editora 34. Deixa a esposa, Yanet (Chinita), e as filhas, Maia e Maria.

 

Márcio Suzuki
08/07/2024