Na presente condição de irremediável derrota do humano, a tarefa de quem pensa é simplesmente dizer a verdade.
Verdade, porém, é uma palavra extremamente comprometedora, portanto seria melhor dizer: a tarefa de quem pensa é dizer qual drama se desenrola no teatro de sua consciência. Designemos este drama: verdade.
No passado, quando era possível alimentar alguma mínima esperança, por vezes tornava-se necessário e perdoável esconder alguma coisa da verdade, adiando-a para tempos melhores.
Agora sabemos que nunca mais haverá tempos melhores, e sabemos que não há mais qualquer esperança. Agora sabemos que o humano está se retirando para os lugares inacessíveis da deserção, enquanto o horror desumano avança e o autômato se apodera das funções de comando.
Por isso, estamos sozinhos com o desespero e a impotência da verdade: a verdade definitiva, última e totalmente inútil.
É preciso compartilhar essa verdade para poder criar alguns lugares comuns de deserção.
O livro também conta com o texto de Vladimir Safatle “Pensar após Gaza — Desumanização, trauma e a filosofia como freio de emergência”, apresentado originalmente como palestra na aula magna do Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo, no dia 03 de abril de 2024.
