O presente Tratado da Felicidade (Ethica Nicomachea I 1-12 e X 6-10) constitui a parte inaugural que comanda a inteira empreitada de Aristóteles no domínio da filosofia moral aristotélica, assim como seu fecho, a célebre prova de que a felicidade perfeita é a vida contemplativa. Aristóteles quer pensar a moral humana sob a égide da felicidade, entendendo por felicidade não um estado psicológico, mas um modo de agir que adotamos no mundo em que vivemos. A ética aristotélica é fundamentalmente eudemônica: ela gira em torno do agente humano que almeja ser feliz, isto é, do agente que busca agir bem, bem sendo entendido no sentido moral do termo. Aristóteles mostra, neste texto, como bem agir está intrinsecamente unido a agir com base em boas razões e que as razões que o agente feliz adota são as suas razões, aquelas que respondem ao seu caráter moral e ao projeto de vida que adota para si. Partindo do truísmo de que todos queremos ser felizes, Aristóteles investiga de modo rigoroso e iluminador os meandros da felicidade humana no âmbito de uma filosofia moral em compasso humano.