Benedito Nunes (Belém, 21 de novembro de 1929 - Belém, 27 de fevereiro de 2011)

Com a morte do Professor Benedito Nunes, perdemos um intelectual que cultivou, ao longo de toda a sua vida, a rara virtude de reunir rigor e sensibilidade, certamente porque nunca se encerrou nos limites de uma filosofia técnica, mas sempre se abriu para as manifestações da arte, principalmente da literatura, nas quais encontrava fontes de conhecimento mais amplas e profundas do que no racionalismo estrito. Assim, trabalhava em filosofia buscando sempre a inspiração poética do pensamento, e procurava na literatura o desvendamento das mais complexas questões existenciais. Não se tratava apenas de alguém que prezava igualmente a filosofia e a literatura, mas sim de um espírito do qual se pode dizer que foi, ao mesmo tempo, e de maneira profundamente harmoniosa, um pensador da arte e um artista do pensamento.

Em todos os seus trabalhos, ensaios filosóficos e crítica literária, promovia um diálogo com os autores e os temas no qual sobressaía a sua independência e a sua originalidade. As influências que nele podemos constatar não se reduzem à subordinação do discípulo ou à simples continuidade de outro pensamento, mas a erudição, vasta e variada, nele se transfigurava em finas percepções de tudo quanto as obras podiam revelar à sua refinada leitura e à sua atenção sensível.

A sua extensa obra ainda está por ser divulgada, pois os textos mais conhecidos representam apenas uma parte do enorme interesse que sempre manifestou pelo trabalho do espírito, sem a preocupação de sistematizar ou formalizar linhas objetivas de pesquisa ou impor a força da ordem à rica diversidade da sua meditação. Mestre generoso, formou gerações muito mais pelo que inspirava do que pelo que ensinava, uma vez que acreditava profundamente que a suprema liberdade consiste na criação, que ele procurou absorver na filosofia e na arte, com a acuidade e a compreensão sutil que exercia de modo privilegiado.

A modéstia e a discrição, qualidades nele dominantes, mantiveram-no a uma distância prudente das luzes do palco intelectual das celebridades acadêmicas e culturais, que sua severa alegria porventura ironizava. Ainda assim esperamos que seu exemplo frutifique, antes de tudo, como paradigma do pensador autêntico.

SP 28/02/2011
Por: Franklin Leopoldo e Silva
Departamento de Filosofia