Newton da Costa (1929-2024)

Perdemos no dia de hoje o Professor Newton Carneiro Affonso da Costa, titular aposentado do Departamento de Filosofia dessa Faculdade. Não é fácil avaliar a estatura intelectual desse homem que foi o nome mais destacado da área de lógica e filosofia em nosso país. Engenheiro e matemático de formação, logo interessou-se por lógica e filosofia da ciência e nos deixou, pelo menos, três grandes contribuições nessa grande área de conhecimento. Foi o principal edificador do que é conhecido como os sistemas lógicos paraconsistentes, que rapidamente lhe deu fama mundial e colocou o Brasil no foco dessa disciplina com proliferação de estudos em praticamente todos os continentes. Construiu a noção de quase-verdade que lhe permitiu desenvolver um conceito novo de conhecimento científico utilizando uma versão mais geral de estruturas parciais aplicadas à ciência. Resolveu alguns problemas relacionados aos fundamentos da física, estendendo os resultados de incompletude e indecidibilidade para essa disciplina. Enfim, essa é apenas uma pequena amostra do impacto de sua obra para o conhecimento humano. Recebeu inúmeras honrarias durante sua vida e, apenas para citar uma delas, foi o primeiro brasileiro membro, eleito por unanimidade, do Institut International de Philosophie, sediado em Paris.

Conheci o Professor Newton em 1989, no último semestre de minha graduação em filosofia. Tive uma identificação imediata com seus interesses em lógica e filosofia da ciência e também o prazer e a honra de tê-lo como orientador em meus estudos de mestrado e doutorado. Sua personalidade agregadora conseguia atrair pessoas das mais diversas áreas do conhecimento formando, em torno de si, um grupo de estudantes que se mantinha unido tanto pelas afinidades intelectuais, quanto, e acima de tudo, pelo entusiasmo contagiante de seu mentor. Sua irreverência era externada principalmente em suas aulas, insistindo sempre que o que mais importava era assimilar os conceitos e resultados principais, sem se ater a detalhes técnicos, que dizia que podíamos aprender sozinhos lendo os livros.

Conviver todos esses anos com o Professor Newton, desfrutar de sua companhia em sala de aula, encontros científicos, almoços e cafés me fez entender um pouco mais da vida, do que é a atividade científica, do meu papel como professor e porque não dizer, de mim mesmo.

O Departamento e a Faculdade perdem um de seus maiores intelectuais; eu, um grande amigo e uma de minhas referências.
Adeus, meu querido mestre!

 

Prof. Dr. Edelcio Gonçalves de Souza
Departamento de Filosofia | FFLCH-USP
17/04/2024