Este trabalho investiga como a fenomenologia é articulada na análise do conceito de decisão que Paul Ricoeur conduz em O Voluntário e o Involuntário (1950), primeiro tomo de sua inacabada trilogia, Filosofia da Vontade. Primeiramente caracterizamos a apropriação que Ricoeur faz da fenomenologia e investigamos quais aspectos metodológicos e temáticos da obra permitem filiá-la ao pensamento husserliano. Em seguida, reconstruímos a descrição eidética pura que Ricoeur faz do decidir, garantindo neste ato a intencionalidade e a referência a um eu. Esses atributos essenciais lhe permitem conceituar um caminho intermediário na análise da vontade humana, integrando o corpo e a duração na estrutura da decisão sem o risco de recair, por um lado, no determinismo, e por outro, na liberdade absoluta. Acompanhamos por fim a inclusão desses elementos próprios à existência na análise, que é balizada pelos achados da descrição eidética, e investigamos em que medida Ricoeur tensiona os limites da fenomenologia.
Palavras-chave: Ricoeur. Fenomenologia. Husserl. Vontade. Decisão.