O objetivo geral desta dissertação é fazer uma comparação entre as diferentes formas como ambos, Hegel e Espinosa, lidam com o conceito de “teleologia”, ou seja, com a noção de causalidade finalista. Este esforço se insere numa longa tradição que opõe as filosofias de hegeliana e espinosana num debate indireto, construído desde a Alemanha do século XVII, a partir das críticas do próprio Hegel à filosofia de Espinosa. Primeiramente, compreenderemos como, na filosofia espinosana, não há lugar para causas finais, e qualquer noção de teleologia seria vista como inadequada. Depois, veremos como, na lógica hegeliana, a teleologia é um momento crucial da construção racional da natureza. Enquanto, para um, a natureza imanente não comporta causas finais, para o outro, a teleologia é fundamental para a concepção de natureza e dos seres naturais. Tendo explicitado as duas perspectivas, poderemos confrontá-las partindo das críticas hegelianas à filosofia de Espinosa: aos olhos de Hegel, o grande furo da filosofia espinosana está na incompreensão da dimensão produtiva da negatividade. Espinosa, segundo Hegel, já possuía uma noção de negatividade que, se levada às suas últimas consequências, teria a negação determinada como resultado, uma vez que “toda determinação é uma negação”. O tipo de negatividade que Hegel tem em mente é aquele constitutivo do movimento dialético. Numa perspectiva hegeliana, a filosofia de Espinosa é um sistema bem encaminhado mas incompleto. A falta de uma causalidade finalista, nesse sentido, poderia ser considerada como uma consequência da insuficiência da filosofia espinosana. Contudo, partindo da obra de Mariana de Gainza, Espinosa: uma filosofia materialista do infinito positivo, podemos considerar uma resposta à crítica hegeliana, uma vez que a noção de negatividade usada por Espinosa é fundamentalmente distinta daquela que Hegel projetou em seu sistema: enquanto para Hegel a negatividade é, necessariamente, a força motriz do movimento dialético, para Espinosa, ela é o elemento materialista que nega quaisquer tentativas de reduzir a multiplicidade da natureza a um conjunto finito de um princípios. A necessária multiplicidade infinita da natureza impede que o movimento dialético, na perspectiva espinosana, seja o único caminho possível para o filosofar. Dessa forma, podemos retornar à diferença de como ambos lidam com a questão das causas finais e considerar que a falta de uma teleologia espinosana não seria um sintoma de insuficiência filosófica, mas uma evidência de que Espinosa não precisou de uma causalidade finalista para lidar com questões semelhantes às de Hegel.
ARTUR RIBEIRO DE MENDONÇA CARDOSO
Curso
Mestrado
Título da pesquisa
Hegel e Espinosa: um debate indireto sobre teleologia
Resumo da pesquisa
Orientador
Maria Lúcia Mello e Oliveira Cacciola
Data da defesa
10/12/2024