Nas últimas três décadas, o conceito de comuns ganhou relevância na produção acadêmica. Essa condição reativa a questão do governo de economias não dirigidas por princípios como mercado e propriedade. No campo marxista, Antonio Negri e Michael Hardt propõem o conceito de comum (common) como um modo de produção que anuncia um mundo pós-capitalista. Esta tese indica alguns caminhos da constituição de saberes econômico-políticos dos comuns. Examinamos o projeto propositivo do comum sob o ponto de vista da economia política: haveria nesse projeto um saber econômico-político não orientado pelo mercado nem pelo princípio de privatização generalizada da vida, um saber bem-constituído e que possa ser instrumento para as teorias e lutas alternativas ao pensamento vinculado ao capital? Primeiro, a tese avalia a questão posta por Foucault, se houve um pensamento econômico autônomo no “socialismo realmente existente”. Concordamos com Foucault neste caso específico de economias não capitalistas, mas verificamos que o pensamento da escola econômica chamada de “ordoliberal” habilita uma moldura econômica não informada pelo mercado. Em seguida, apontamos que o projeto do comum é carente no saber econômico propositivo, sobretudo por se basear em conceitos molares como multidão e comum, cuja ambição é serem válidos universalmente, derivando daí sua condição de possibilidade. Por fim, pondo-nos na perspectiva da multiplicidade, a partir de Althusser e de Massimo De Angelis argumentamos que há vários modos de produção existentes – um dos quais é dominante – e indicamos que se trata de visar um horizonte não molar do saber econômico, considerando a existência atual de vários modos produção altercapitalistas cujo saber deve-se promover, sobretudo a partir do que Foucault chamou de saberes das lutas, em sua diversidade radical.
MARIO ANTUNES MARINO
Curso
Doutorado
Título da pesquisa
O comum como razão governamental
Resumo da pesquisa
Orientador
Silvana de Souza Ramos
Fomento
CAPES
Data da defesa
11/10/2024