PAULA FEIJÓ DE MEDEIROS

Este trabalho defende que o projeto central de A estrutura do comportamento, primeira grande obra de Merleau-Ponty, reside no abandono do pensamento causal e na emergência, em seu lugar, de um pensamento dialético que permita uma elaboração verdadeiramente filosófica do termo estrutura. Argumenta-se que o caminho eleito para tal abandono é a própria crítica das ciências do comportamento, cuja função última é revelar os preconceitos ontológicos sobre os quais se apoiam. Fica evidenciado assim que mesmo a introdução da forma como categoria científica não é suficiente para a solução das dificuldades próprias da ciência. Em seguida, mostramos que a abordagem dialética é delineada na descrição fenomenológica dos modos de existir das estruturas perceptivas. Nesse sentido, somos conduzidos a uma nova atitude transcendental que supera a solução criticista, coloca ontologia e fenomenologia no mesmo mundo e se abre para a originalidade temporal da dialética humana. Concluímos assim que a primeira tese de Merleau-Ponty já apresenta um regime ontológico original em alternativa à cisão atemporal do Ser que opera tanto no naturalismo das ciências quanto no criticismo filosófico.