ROGÉRIO FERNANDES MARTINS

Curso
Mestrado
Título da pesquisa
A razão comprometida: grupos polarizados e explicações radicais
Resumo da pesquisa

Esta dissertação de mestrado examina, sob uma perspectiva filosófica, aspectos da intensa polarização de crenças e opiniões presentemente observada em diversos grupos sociais. Mais precisamente, a análise se concentra na persistência de discursos explicativos falaciosos dentro desses grupos, expandindo-se em um estudo abrangente sobre sua origem e perpetuação. Inicialmente, o termo "polarização" é definido como o deslocamento de opinião para extremos em grupos compostos por indivíduos que pensam de modo semelhante, após a ocorrência de algum evento deliberativo. Particularmente, a atenção concentra-se nos grupos polarizados mais coesos e persistentes, denominados "bolhas epistêmicas". Estes são ambientes onde os indivíduos não conseguem distinguir entre o pensamento que conhecem “p” e o conhecimento de “p”. Nomeia-se o discurso explicativo falacioso proferido nesses contextos como "razão comprometida". Essa denominação abrange duas interpretações distintas. A primeira interpretação considera a expressão "razão comprometida" como um raciocínio duvidoso ou falho, levantando a questão: por que explicações ilegítimas são tão persuasivas no interior dessas bolhas? Para examinar essa situação, recorre-se a uma análise combinada de várias teorias, incluindo a teoria pragmática da explicação de van Fraassen, a teoria dos atos de fala de Austin e a teoria das implicaturas de Grice. Essa análise revela que a força e os efeitos produzidos por uma explicação não dependem necessariamente da veracidade de seus componentes. A segunda interpretação considera a expressão "razão comprometida" como o resultado de um compromisso grupal, explicando a sustentação e a tenacidade na defesa de discursos falaciosos, mesmo que fortemente contestados, no interior desses grupos. Nessa abordagem, recorre-se à epistemologia dos grupos e à tese da negociação de crença coletiva de Gilbert e Priest, que afirma que as crenças grupais emergem de uma negociação linguística coletiva, culminando em um compromisso mútuo com o que é proferido nesse contexto. Isso sugere a prevalência de lealdade grupal sobre razões epistêmicas na articulação, por exemplo, de discursos explicativos no interior desses grupos. As considerações desenvolvidas ao longo do texto facilitam a análise e a avaliação das intervenções atualmente propostas para mitigar os efeitos da polarização, além de sugerirem um caminho para futuras pesquisas.

Orientador
Caetano Ernesto Plastino
Data da defesa
17/10/2023