YASMIN TAMARA JUCKSCH

Curso
Doutorado
Título da pesquisa
Das sombras do caos à luz do cosmos: um estudo sobre o problema platônico do mal
Resumo da pesquisa

O alvo geral do presente estudo é discernir e minuciar a(s) causa(s) primária(s) dos males apresentados na obra platônica, distinguindo-as das suas causas secundárias e daquilo que pode ser considerado como seus efeitos ou resíduos. Além disso, o presente estudo também investiga se há, a despeito da ausência de sistematicidade no tratamento do tema ao longo do corpus, um possível lógos unívoco que dê conta da multiplicidade de categorias de males e que possibilite, assim, o discernimento entre males e bens. Com esse intuito, foi necessário examinar se o mal comporta uma natureza ontológica única ou diversa para Platão, isto é, se deve ser entendido como pura negatividade ou se pode ser relacionado a uma potência ontológica positiva, radicada por exemplo na corporeidade ou no corpo, na Necessidade ou nos paradigmas ideais. Desse modo, a investigação buscou compreender – diante da diversidade exuberante de divergências interpretativas a respeito do tema e considerando, ainda, a interligação profunda entre cosmologia, metafísica, psicologia, epistemologia e ética no pensamento platônico –, se há indícios ou evidências de uma ou mais causas primárias dos males experienciados pela alma e, com base nisso, quais males são passíveis de prevenção ou reparo. Com esse objetivo, o primeiro passo foi filtrar os males que são efetivamente considerados como tais por Platão, distinguindo-os daqueles que podem se revelar como bens em outros contextos ou que são apenas efeitos ou condições de possibilidade dos primeiros. O segundo passo foi investigar, a partir da análise de diálogos representativos dos três períodos estabelecidos pela cronologia tradicional, onde de fato se podem localizar as causas primárias desses males e seus reflexos secundários. Esse percurso iniciou-se pela busca de raízes causais dos males que estariam supostamente localizados na cosmologia e psicogênese do Timeu, associados por intérpretes ao caos pré-cósmico, à distância ontológica entre ser e devir, à Necessidade ou à χώρα; além disso, também foi considerada a possibilidade de uma ou mais formas metafísicas do mal. Por fim, o problema dos males psíquicos, morais e antropológicos foi avaliado em diálogos representativos do tema nos três períodos da obra platônica, principalmente a partir da formulação platônica do supremo mal no Fédon, buscando-se compreender, novamente, quais dentre estes são considerados males efetivos na obra platônica, quais relações são estabelecidas entre eles e quais são as causas (ou a causa) às quais se devem. Ao final, foi apresentada uma proposta de delineamento da relação causal e subordinativa entre os diversos males contemplados na pesquisa, com a sustentação conclusiva de que não é possível encontrar provas textuais que alicercem a ideia de que as causas dos males experimentados pela alma podem ser encontrados independentemente dela. Desse modo, busquei sustentar que a única reversibilidade possível dos males se centra na (re)composição auto demiúrgica do cosmos psíquico em oposição ao caos gerado pela ignorância e pelos vícios, que são, por sua vez, originados de um equívoco fundamental na relação da alma com o ser (τό ὀν) e o devir, equívoco que é a um só tempo cognitivo e afetivo.

Orientador
Roberto Bolzani Filho
Fomento
CAPES
Data da defesa
14/03/2024