DANILO MIRANDA RODRIGUES

Este trabalho busca realizar uma reconstrução racional da cosmologia científica, tal qual este conceito foi concebido por Imre Lakatos, inserindose em uma tradição de estudos de caso dos instrumentos conceituais formulados pelo filósofo húngaro. O modelo de universo formulado pelo eminente físico, Albert Einstein, em 1917 exerce importante protagonismo na nascente cosmologia. Seu universo estático, entretanto, não pode ser classificado como um programa de pesquisa no sentido Lakatosiano do termo. O primeiro programa cosmológico surge, efetivamente, com as contribuições do soviético Friedman e do belga Lemaitre. Ambos produzem, de forma independente, modelos de universo em expansão, recuperando parte do núcleo proposto por Einstein. Os modelos de universo em expansão são, efetivamente, testados em seus conteúdos empíricos ao longo das décadas seguintes. Com o auxílio de hipóteses adicionais distintas, diferentes concepções de universo. Apesar de tais diferenças, são notáveis os pontos em comum entre elas, configurando um fenômeno descrito nos trabalhos de Lakatos: uma série empiricamente progressiva de teorias que compartilham de um núcleo em comum. O núcleo do “Programa de Friedman-Lemaitre” é, portanto, composto por algumas teses de Einstein e pelo afastamento entre as galáxias (lei de Hubble), enquanto a série de teorias deste programa é formada pela teoria de Lemaitre, pela teoria do Estado Estacionário (formulada por Hoyle, Bondi e Gold) e pela teoria do Big-Bang (formulada por Gamow, Alpher e Herman). Na parte final desta dissertação discutimos a atualidade deste programa e o motivo de o considerarmos, apesar das notórias dificuldades envolvendo os conceitos de matéria e energia escura, ainda atualmente um programa progressivo e extremamente fértil empiricamente. A descoberta de uma série de partículas fundamentais e de difícil detecção, tal como o “Bóson de Higgs” deve ser interpretada como instancia corroborativa de tal progressividade. O universo de Einstein, afinal, é a primeira proposta de um programa, proposta que não se concretiza pela ausência de falseabilidade, testabilidade ou, na concepção de Lakatos, conteúdo empírico.