PEDRO RODRIGUES NACCARATO

Entre 1989 e 1992, Deleuze e Badiou debateram publicamente sobre suas respectivas posições filosóficas. As discordâncias giravam em torno dos eixos fundamentais da multiplicidade, do acontecimento e do sujeito, e foram tornadas públicas somente através de uma resenha de Badiou ao livro "Le Pli. Leibniz et le Baroque" e por uma resposta de Deleuze em "O que é a filosofia?". Em ambos os textos, a figura de Leibniz é central: para Badiou, aquilo que permite apreender a distância entre as suas concepções e as de Deleuze é o modo como o seu próprio cartesianismo se opõe ao leibnizianismo do segundo; enquanto Deleuze critica o conceito badiouano de acontecimento, cuja elaboração em "L'être et l'événement" depende de uma recusa do pensamento de Leibniz, para propor em seu lugar a noção - cuja extração é leibniziana - de "dobra". No presente trabalho, buscamos mapear a influência de Leibniz nesta disputa entre os dois filósofos, recuperando o trabalho de comentadores que conformaram a visão que ambos tinham do pensador moderno. Com isso, esperamos compreender melhor o papel da interpretação filosófica na produção de suas filosofias.