Nosso objetivo é o de analisarmos as posições althusserianas nas obras Ler o Capital e A favor de Marx com o intuito de discutir a sua relevância no contexto e atualmente a partir das questões relativas à complexidade processual da história e ao papel da consciência e da perspectiva humanista no campo marxista, observando-as, porém, de uma perspectiva crítica capaz de evidenciar os seus limites com relação ao solo dialético da reflexão marxiana. Num primeiro grande movimento da dissertação, tratamos do contexto teórico e político destas obras para situar as questões althusserianas com relação ao mecanicismo e ao humanismo, dado que tais leituras da obra de Marx polarizam a discussão sobre o sentido da obra marxiana no contexto do XX Congresso e dos debates que se seguem no interior do Partido Comunista Francês. Neste movimento, discutimos os motivos pelos quais a leitura economicista da história aparece como problema no campo marxista e os motivos pelos quais, no interior do PCF e segundo a tônica dada pela tentativa de superação desta perspectiva economicista, há uma recorrência predominante ao conceito de homem enquanto via de abordagem da obra marxiana. Ao reconstruirmos este debate, buscamos então evidenciar a relevância das posições althusserianas relativas à complexidade do processo histórico e à impossibilidade de pensar este processo a partir de um sujeito da consciência, desdobrando as propostas de interpretação da obra de Marx oferecidas por Balibar e Althusser a partir da noção de corte epistemológico e de anti-humanismo teórico. Por outro lado e num movimento subsequente, sustentamos que os limites das propostas interpretativas althusserianas com relação à obra de Marx derivam da afirmação do “corte” entre Hegel e Marx, tese problemática que, entretanto, não retira o valor das questões postas por ambos no contexto. Daí que, com a finalidade de assimilar em solo dialético as questões mencionadas, teçamos críticas às saídas oferecidas por Althusser e Balibar a partir de uma reflexão sobre as relações entre as obras de Hegel e Marx. E isto por duas vias: uma primeira que distingue os conceitos de “causalidade estrutural” e de “sobredeterminação”, tomados pelo grupo althusseriano como objetos implícitos do discurso teórico de Marx, daquele que é efetivamente o objeto teórico marxiano, o capital – cujo tratamento dialético, marcado por relações de continuidade e descontinuidade com a dialética de Hegel, explicam tanto o seu caráter especulativo quanto a pertinência da questão althusseriana sobre a complexidade do processo histórico quando pensamos na especificidade da obra de Marx. Como segunda via, discutimos os problemas relativos “anti-humanismo teórico” althusseriano, ligados à não compreensão do caráter especulativo do discurso de Marx sobre a história, em larga medida relacionado ao tratamento dado por Hegel ao tema. Seguindo por esta via, exploramos as diferenças com relação a Hegel para situar teoricamente o conceito de homem na obra de Marx, por um lado problematizando a perspectiva marxiana de realização do homem e, por outro, remetendo tais discussões ao conceito de sofrimento, num movimento de assimilação das preocupações humanistas postas, porém, para além da perspectiva da consciência.
SAULO LANCE REIS
Curso
Mestrado
Título da pesquisa
A questão como limite: sobre as posições althusserianas em Ler o Capital e A favor de Marx
Resumo da pesquisa
Orientador
Vladimir Pinheiro Safatle
Fomento
CAPES
Data da defesa
16/06/2025