Bernardo Nunes Gonçalves

Curso
Doutorado
Título da pesquisa
As máquinas vão pensar: estrutura e interpretação do jogo da imitação de Alan Turing
Resumo da pesquisa

Podem as máquinas pensar? Apresento um estudo do icônico jogo ou teste da imitação de Alan Turing e sua questão central. Setenta anos de comentários foram produzidos sobre a proposta de Turing de 1950. O já lendário "teste de Turing" ganhou vida própria na tradição da filosofia analítica, na melhor das hipóteses com uma fraca relação com os testes da imitação históricos (1948-1952) apresentados por Turing. Examinarei as raízes históricas e epistemológicas das várias versões do jogo ou teste da imitação de Turing e argumentarei que elas surgiram no interior de um diálogo, de fato uma controvérsia científica, notavelmente com o físico e pioneiro da computação Douglas Hartree, o químico e filósofo Michael Polanyi e o neurocirurgião Geoffrey Jefferson. Situando as ideias de Turing em seu contexto histórico, social e cultural, reivindicarei seu valor científico e filosófico para benefício da discussão nos anos que virão. Meu estudo está organizado em três problemas filosóficos principais cujas análises são apoiadas por uma cronologia subsidiária do conceito de inteligência de máquina no pensamento de Turing (1936-1952). O primeiro problema que abordarei é a identificação da ambição específica de Turing que o levou a anunciar que as máquinas vão pensar. Herói de guerra e matemático brilhante, ele desafiou a sabedoria convencional sobre o que as máquinas realmente eram ou poderiam ser, e profetizou um futuro permeado por máquinas inteligentes que pode ser visto tanto como uma distopia quanto como uma utopia. Examinarei o perfil de Turing, com especial interesse pela maneira como ele foi visto por alguns de seus antagonistas. No segundo problema, para além da mera proposta de um teste para inteligência de máquina, estudarei a proposição de Turing "as máquinas podem pensar" e sua hipótese existencial implicada -- "existe (existirá) uma máquina pensante" -- do ponto de vista da história da filosofia de ciência. Diferentemente das leituras mais tradicionais de Turing, meu achado é de que Turing mantinha uma atitude realista não óbvia em relação à existência de uma mente-cérebro mecânica que ele conjecturou moldar o humano e cuja réplica digital ele pretendia construir na máquina. O artigo de Turing de 1950 foi reconhecido como um texto complexo e multifacetado. Visões opostas podem ser identificadas na literatura quanto à questão de se Turing propôs ou não seu teste da imitação como um experimento para decidir pela inteligência da máquina. Chamarei esse problema (terceiro e central que abordo neste estudo) de "o dilema do teste de Turing." Meus achados sugerem que Turing não pode ter proposto seu jogo da imitação como outra coisa senão um experimento mental. E no entanto suas funções crítica e heurística, no interior da controvérsia mente-máquina, são marcantes.

Orientador
Edelcio Gonçalves de Souza
Data da defesa
09/03/2021