ARTUR AUGUSTO ABDALLA RENZO

Lançado em 1964, Dr. Fantástico acertou em cheio os ânimos de um país ávido para expurgar a retórica e as ansiedades da Guerra Fria e do macarthismo, e que tinha acabado de ver a possiblidade de uma guerra nuclear passar diante de seus olhos. A euforia da vitória militar da Segunda Guerra tinha vindo junto com a invenção da Bomba Atômica, e a corrida nuclear que ocorrera de mãos dadas com o ciclo de prosperidade do pós-guerra havia condenado “cada homem, mulher e criança” a viver permanentemente sob uma “espada nuclear de Dâmocles”, nos termos de Kennedy. Com uma sensibilidade irreverente que já atinava com a onda de agitação política e cultural que culminaria em 1968, o filme elabora um conjunto de ambivalências abertas e ainda não resolvidas nesse período de intensas reviravoltas. São ambivalências que atravessam a obra de ponta a ponta, e remontam às próprias condições de sua produção cinematográfica, marcada por uma situação em que a possibilidade de novas liberdades criativas e esquemas de criação convivia com uma centralização inédita do poder econômico.