Esta pesquisa pretende estudar a presença da noção de sofrimento no projeto de Theodor Adorno de crítica da cultura e da sociedade, bem como as relações com a sua leitura da psicanálise. Nesse sentido, discutirá a hipótese de que nesse projeto crítico pode-se encontrar como eixo um impulso de crítica de experiências de sofrimento. Se em textos como a Dialética Negativa (1967) e a Teoria Estética (1969) a noção de sofrimento aparece mais claramente - como na reflexão sobre a mutilação dos corpos em Auschwitz e sobre a arte autêntica que dá voz ao acúmulo histórico do sofrimento ao se configurar como cifra de um mundo emancipado —, na produção anterior de Adorno, à exceção de Minima Moralia (1951) - livro em que o sofrimento fora ponto de partida das reflexões sobre os processos de mutilação da vida —, a noção de sofrimento permanecia, à primeira vista, marginal: recebiam mais destaque temas como os processos de racionalização da sociedade organizados pela forma-mercadoria, a discussão sobre indústria cultural, assim como a tese sobre a recaída do esclarecimento no mito e uma fenomenologia da gênese da razão moderna. Pretende-se mostrar também que embora nem sempre explicitamente nomeada, essa noção está presente quando Adorno discute as diversas formas de impedimento para uma reconciliação das cisões entre trabalho material e intelectual, sujeito e objeto, indivíduo e sociedade e manifesta-se como mutilação das possibilidades de experiência ou como dominação da razão sobre a natureza, ou com incidência no psiquismo e no corpo dos indivíduos, bem como na sociedade. Tendo então desenvolvido a possibilidade de apreender a centralidade da noção de sofrimento na obra de Adorno, uma vez que nos campos da estética, da filosofia da história — incluindo a interlocução com Benjamin e Horkheimer —, passando pela crítica à psicanálise e pelos textos mais sociológicos, podemos encontrar o impulso de elaborar teoricamente as experiências históricas de sofrimento, pretende-se investigar o lugar da psicanálise na formulação dessa noção. Além de Adorno discutir com a tradição da filosofia moral (principalmente Nietzsche, Kant e Schopenhauer), ele inclui sobretudo Freud na elaboração da crítica das configurações históricas de sofrimento, pois, segundo sua leitura, este é um pensador que teoriza processos de bloqueio da experiência subjetiva e social (por exemplo, em conceitos como sintoma, inibição, repressão, mal-estar etc).
BRUNO CARVALHO RODRIGUES DE FREITAS
Curso
Doutorado
Título da pesquisa
Sofrimento e crítica da sociedade em Adorno
Resumo da pesquisa
Orientador
Paulo Eduardo Arantes
Fomento
CNPq e Fapesp
Data da defesa
20/02/2025