DANIELE ELENE CORTE CARDOSO

Ao refletir sobre a filosofia política, Jacques Rancière propõe um questionamento singular: como o pensamento pode arbitrar sobre a ação humana sem que essa teorização produza um privilégio do primeiro sobre o segundo. Desse ponto de vista, a filosofia tem algo de irreconciliável em relação à política, uma imposição que pretende determinar um objeto que é indeterminável. A política, na visão do filósofo, corresponde a um erro de cálculo, ao incomensurável, ao que foge à regra. Nesse sentido, há um problema inerente à filosofia política, que diz respeito à sua própria possibilidade de existência. O acontecimento político é aquele que faz surgir novas figuras políticas, novas figuras do pensamento, novos modos de ser. Assim, qualquer definição apriorística é de partida uma manutenção de uma ordem pré-existente, ou seja, de algo que por definição a política pretende romper, o que faz com que o pensamento político tenha um problema congênito às suas possibilidades de existência.