Hamilton Fernando dos Santos

Curso
Doutorado
Título da pesquisa
O triunfo das paixões: reputação, mérito e justiça em David Hume
Resumo da pesquisa

Decidir se a paixão pela fama, também dita amor pela boa reputação, é um vício ou uma virtude constitui um problema que tem mobilizado boa parte dos filósofos desde a antiguidade clássica. Enquanto para alguns o desejo de fama equivale a uma volúpia deletéria para a dignidade do indivíduo e para o avanço da sociedade, para outros indica o melhor caminho para se chegar à prodigalidade pessoal e social. Esta tese procura demonstrar como, depois de tanto esforço especulativo daqueles filósofos, o escocês David Hume oferece uma solução, a nosso ver, insofismável, para o impasse. Para isso, partiremos da constatação de que o problema da reputação ocupa um lugar central em sua filosofia. Essa centralidade, articulada na esfera da psicologia (seu sistema das paixões), adquire um papel de grande influência também nos campos da moral e da política. O estudo esforça-se em mapear essa influência a partir do exame do conceito de justiça elaborado pelo escocês no seu Tratado da Natureza Humana. A partir de uma exegese do sistema das paixões, desenvolvido pelo filósofo nessa mesma obra, nosso objetivo primeiro é o de identificar o que diz respeito à paixão específica do amor pela boa reputação. E, então, mostrar como são as elaborações ao redor dessa paixão que nos permitem compreender mais profundamente as bases daquele conceito. Alguns desdobramentos dessa compreensão são apresentados ao longo do caminho, por exemplo, o modo como Hume rompe com a tradição racionalista, formulando outra relação para o conflito entre paixões e razão, ou o modo como ele abre caminho para que se pense o desejo de fama, a preocupação com a reputação ou a vaidade não como vícios ou princípios de desagregação social, mas, pelo contrário, como fundamentos da sociabilidade e da instituição da autoridade política por meio das opiniões (ao invés de pela ordem jurídica e racional). O argumento principal deste nosso trabalho consiste na afirmação de que a filosofia de David Hume é um divisor de águas no pensamento sobre o amor pela boa reputação, uma vez que o resgata do debate circunscrito à noção de glória militar, religiosa, artística e política e o transpõe para o centro da vida comum, autorizando-nos a pensá-lo como uma das mais importantes paixões, senão mesmo a mais importante, já que é, ao lado da benevolência, responsável pela possibilidade natural da vida gregária, sendo a paixão típica das formas de sociabilidade, e já que sem esse sentimento o homem seria impedido de adquirir a virtude da justiça, a qual é, por sua vez, a grande “sustentação da sociedade” no que concerne tanto à sua fundação quanto ao seu desenvolvimento. Como metodologia de pesquisa, elegemos como fonte primária e direta o Livro 2 (Das Paixões) do Tratado da Natureza Humana (1939-1940), lendoo sempre à luz do Livro 1(Do Entendimento), que o precede, e do Livro 3 (Da Moral), que o sucede. Como fontes complementares diretas, toda a obra de Hume foi levada em conta, em especial Uma Investigação acerca dos Princípios da Moral e o ensaio Dos Primeiros Princípios do Governo. A construção do argumento da fama como sendo a principal paixão social do sistema humiano das paixões levou ainda em consideração uma série de raros artigos recentes sobre esse tema específico dentro da vasta e cada vez mais profícua produção acadêmica e pública sobre a obra e a biografia do nosso autor.

 

Palavras-Chave: Reputação; Fama; Mérito, Caráter; Paixões.

Orientador
Pedro Paulo Garrido Pimenta
Data da defesa
16/09/2022