GUILHERME DE OLIVEIRA FREITAS

O objetivo deste trabalho é apresentar uma resposta ao problema da legitimidade da exposição do princípio supremo da razão prática, realizada por meio de termos matemáticos como “teorema”, “escólio”, etc., no primeiro capítulo da Crítica da Razão Prática de Immanuel Kant. Para isso, primeiro realizaremos um estudo da filosofia de Christian Wolff e da influência por ele exercida na formação do pensamento kantiano. Através de uma reconstrução da tese da identidade do método filosófico e do método matemático na filosofia wolffiana, apresentaremos a ruptura realizada por Kant, na Crítica da Razão Pura, entre os métodos e os conceitos da filosofia e da matemática. Essa ruptura ocasionará o que denominamos um alargamento do conceito de Erklärung, cujo uso será determinado por uma tipologia de conceitos própria à filosofia crítica, designada pelos correlatos latinos germanizados Declaration, Definition, Explication e Exposition. Tendo apresentado o sentido de cada um destes termos, passaremos a uma análise da exposição realizada no primeiro capítulo da Crítica da Razão Prática, denominado Dos princípios da razão prática pura, com o intuito de compreendermos a legitimidade do uso de Erklärung no §1, questionada por comentadores e tradutores da obra de Kant. Buscaremos mostrar, através de uma articulação da história da palavra, de seus usos no interior da filosofia crítica e de suas possíveis traduções, que a Erklärung do §1 deve ser compreendida como uma Exposition. Tal interpretação demandará, no entanto, uma análise do conceito que se faz do objeto da exposição do primeiro capítulo, que nos é dado a priori, bem como um exame da completude dessa exposição, que nos permitirá determinar sua Definition. Por fim, essa reinterpretação da Exposition com base na Disciplina da razão pura da Crítica da Razão Pura nos fornecerá elementos para posicionar a doutrina do fato da razão no cerne da Analítica da Crítica da Razão Prática, bem como para interpretá-la a partir do conceito negativo de liberdade.